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quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

Falta de médicos força moradores do interior a se tratarem em Salvador


60% dos profissionais baianos estão concentrados em Salvador, o que resulta numa média de 0,6 médico para cada mil habitantes no interior do estado


Foto: Rafael Martins
Eduardo se acidentou em Cipó, mas veio para Salvador
Bruno Wendel e Priscila Chammas
Quando amanhece em Salvador, o motorista José Gil da Silva está encerrando a primeira parte do seu trabalho. Há dois anos, ele transporta pacientes vindos do interior do estado para fazer tratamento na capital. São pessoas com câncer, dores no estômago, problemas ginecológicos, cardíacos, auditivos, ou apenas precisando fazer alguns exames de laboratório.
Se a proporção de 1,25 médico para cada mil pacientes na Bahia já é muito aquém do necessário (o estado é o 18º no ranking quantidade de médicos, segundo estudo do Conselho Federal de Medicina), se for considerado apenas o interior do estado, a situação é ainda pior: 60% dos profissionais baianos estão concentrados em Salvador, o que resulta numa média de 0,6 médico para cada mil habitantes no interior do estado.
“A gente deixa o pessoal bem cedo nas clínicas ou hospitais públicos de Salvador. Mais tarde, os pacientes ligam e faço a panha. Normalmente às 17h pego a estrada de volta. Quando o tratamento requer mais tempo, o paciente fica na casa de parentes”, descreve o motorista José Gil, que trabalha para a prefeitura de Itapicuru, no Nordeste da Bahia, mas pelo caminho vai pegando também os pacientes de Banzaê, Ribeira do Pombal, Crisópolis e Rio Real.
Entre essas pessoas está a lavradora Josefa Mendes de Jesus. De três em três meses, ela vem a Salvador com a filha Jamile,  15 anos, que tem anemia falciforme. Desde 2008, mãe e filha vêm de Crisópolis  para Salvador para a menina fazer o tratamento no Hemoba.
“Aqui em Salvador ela é acompanhada pelo mesmo médico há cinco anos. Quando ela sente dores fortes no corpo, levo para o hospital de lá (Crisópolis) que dá uma medicação na veia, mas isso é só para passar a dor. Todo o tratamento é feito aqui. Lá tem médico clínico para fazer tudo. Mas o ortopedista e o psiquiatra só vão lá uma vez por mês”, queixa-se a mãe.

Verba 
A secretária de Saúde de Crisópolis, Joseane de Souza, explica que falta verba para contratar mais do que os 17 médicos disponíveis na cidade de 20 mil habitantes. Desses,  dois se revezam no atendimento da emergência e outros cinco atendem em postos . Entre os especialistas, faltam dermatologista, obstetra, neurologista, gastroenterologista e ultrassonografista.
“Cirurgião a gente tem, mas só para encaminhar os pacientes, porque não temos centro cirúrgico”, diz  ela. “Assumimos a prefeitura  e estamos organizando. O laboratório era terceirizado na gestão passada, mas agora já compramos os equipamentos”. 

Dentro do ônibus da prefeitura de Cipó, a 240 quilômetros de Salvador, o lavrador Eduardo Soares dos Santos aguardava para ir embora. Há dez dias, ele sofreu um acidente de moto, após uma fechada de um carro. Na época, foi levado para o hospital de Ribeira do Pombal, onde foi feito somente o raio-x do tórax.
Mas ele chegou ontem a Salvador com dores fortes na cabeça. “Em Cipó e Ribeira do Pombal não faz raio-x na cabeça e não tem neurologista. No hospital de Cipó, no dia do acidente, só me deram uma injeção e nada mais. Isso é complicado!”, reclamou.

A falta de especialistas também é um problema relatado por Cíntia Rosemberg, secretária de Saúde de Cairu, no Sul da Bahia. “A gente até que tem médicos suficientes. São 17 para 15 mil habitantes, mas não temos como atender pacientes de média e alta complexidades”, conta.
Entre os atendimentos que não podem ser realizados estão incluídos até os partos, que são feitos na vizinha Valença. Além disso, todos os dias, uma van com 12 pacientes com consultas agendadas segue para Salvador. Cíntia também reclama que a pouca oferta de médicos tem inflacionado muito os salários.
Cremeb critica soluções da Sesab
Entre as medidas que a Secretaria de Saúde do Estado da Bahia (Sesab) destaca para minimizar o problema da concentração de médicos em Salvador estão a construção de um hospital em Seabra (sem data para conclusão) e o Provab, que vai levar 665 médicos recém-formados para 193 municípios.
Em contrapartida, esses profissionais sairiam na frente nas provas de residência que fizessem na capital. “Isso me preocupa, porque esses médicos não são especializados em nada e não serão acompanhados por profissionais experientes”, observa o presidente do Cremeb, José Abelardo de Menezes.
A Sesab também cita a Fundação Estatal de Saúde, que após concursos para médicos escolhe para onde os aprovados irão trabalhar. Após três anos,  eles podem se mudar. “A ideia é boa, mas só 69 municípios pequenos toparam participar”, critica.
Correio da Bahia

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