Depois do pânico, chuva não dá trégua e população evita as ruas

RIO DE JANEIRO (Reuters) - Depois do caos, o Rio virou uma cidade de ruas alagadas nesta terça-feira, na qual se via poucas pessoas andando, sem ter como evitar os alagamentos, poucos veículos circulando e o barulho das sirenes dos bombeiros quebrava um silêncio incomum.

O número de pessoas mortas não parou de aumentar nesta terça-feira e já chove há mais de 24 horas, uma tempestade que as autoridades consideram a pior em intensidade dos últimos tempos.

Na noite de segunda-feira, quando a água começou a cair, importantes vias da capital ficaram alagadas. O trânsito virou um caos, pontos de ônibus ficaram cheios e muitas pessoas não conseguiram voltar para casa. Tudo parou. A intensidade das águas fez morros desabarem, causando a morte de 95 pessoas, não só na capital, mas em Niterói, São Gonçalo, Nilópolis, Duque de Caixas e Petrópolis.

Na manhã desta terça, o alagamento em diversas áreas levou as autoridades a orientar a população a ficar em casa, e as aulas foram canceladas. Quem conseguiu chegar em casa na véspera não teve como sair para trabalhar esta manhã, fosse pelas enchentes e deslizamentos ou pela paralisação de linhas de ônibus e trens que foram gravemente afetadas pelas chuvas.

"Saí de casa às 5h50 mas não tinha trem nem ônibus e a estação estava lotava de gente debaixo de chuva. As ruas em volta estavam todas alagadas e os ônibus também estavam presos em outros lugares que estavam alagados", disse a babá Mônica de Mendonça, de 25 anos, que não conseguiu sair de Belford Roxo, na Baixada Fluminense, para ir ao trabalho em Copacabana.

"Depois de umas duas horas todo mundo desistiu e voltou para casa porque não tinha como sair daqui", acrescentou ela, que na segunda-feira também enfrentou os transtornos causados pela chuva nas linhas de trem do Rio para chegar em casa.

Assim como Mônica, milhares de pessoas não foram trabalhar por conta da chuva, o que resultou em lojas fechadas, escritórios vazios e ruas desertas no centro da cidade. A Fecomércio recomendou que os empresários abonem as faltas dos empregados, seguindo um pedido das autoridades municipais e estaduais para que as pessoas evitassem deslocamentos para preservar sua segurança.

O Sindicato dos Lojistas da cidade do Rio estimou um prejuízo do setor de 170 milhões de reais por causa do temporal.

"Noventa por cento dos estabelecimentos não abriram ou porque os funcionários não chegaram ou porque não tinha movimento. A nossa estimativa é que o comércio perdeu quase todo o seu faturamento do dia", disse ele. "O impacto foi generalizado e atingiu todos os segmentos."

A chuva também prejudicou o funcionamento dos aeroportos da cidade, especialmente o Santos Dumont, que passou a maior parte da manha fechado. Mais de metade das decolagens previstas para esta terça-feira do aeroporto no centro do Rio foi cancelada, enquanto muitos pousos foram transferidos para o Aeroporto Internacional Antonio Carlos Jobim.

Segundo a Infraero, o aeroporto internacional funcionou durante todo o dia com auxílio de aparelhos, mas sofreu atrasos em consequência dos voos desviados. Mas quem desembarcava lá encontrava enormes dificuldades para deixar o bairro da Ilha do Governador devido às enchentes do entorno.

No início da noite desta terça-feira, quando a chuva ganhava força novamente após períodos de estiagem durante o dia, as principais vias que sofreram alagamentos na véspera tinham trânsito livre, mas algumas ruas permaneceram fechadas para limpeza.

Alguns bairros ainda estavam sem fornecimento de energia, e a concessionária Light informou que, devido aos alagamentos, as equipes encontram dificuldades para acessar locais que necessitam de reparos ou manutenção.

"O nosso grande problema é a perda de vidas", disse o prefeito do Rio, Eduardo Paes, que fez um apelo para as pessoas deixarem as áreas de risco e anunciou mais um dia sem aulas para evitar mais tragédia. "Melhor a cidade parada com as pessoas seguras do que uma cidade parada com as pessoas inseguras", disse ao ser questionado pedirá à população para ficar em casa novamente na quarta-feira.

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